Este vulto, portanto, que caminha
altas horas, ao frio das nortadas,
é Camões que de fome se definha
nas ruas de Lisboa abandonadas.
É Camões a que a Sorte vil mesquinha
faz em noites de fome torturadas,
ele o velho cantor d'heróis guerreiros!...
vagar errante como os vis rafeiros.
Morreu-lhe o escravo, o seu fiel amigo,
o seu amparo e seu bordão no mundo,
morreu-lhe o humilde companheiro antigo,
no seu peito deixando um vácuo fundo.
Hoje pois triste, velho, sem abrigo,
faminto, abandonado e vagabundo,
tenta esmolar também pelas esquinas.
Ó lágrimas!... Ó glórias!... Ó ruínas...
|